domingo, 3 de maio de 2009

Profissão: Cineasta

Passei essa Semana Santa em Quicé, cidadezinha no interior da Bahia, vivendo em um circo. Hoje pela manhã, o circo foi embora. Quicé terá uma noite triste.

Tendão, um garoto de nove anos, vai abafar seu choro por conta do plano de fugir com o circo não ter dado certo. Patrícia, quinze anos, estará nostálgica com sua paixão pelo popular Palhaço Real, de catorze anos. Fico imaginando a melancolia que Tendão sentirá amanhã quando retornar para aquele terreno vazio. E Patrícia quando abrir sua janela? O circo estava diante de sua casa.

Hoje pela manhã, enquanto filmava aquela velha lona sendo baixada, senti uma estranha melancolia. A melancolia dos que ficam. E foi isso que fomos filmar! A melancolia de três palhaços que já deixaram muitos terrenos e corações vazios nas cidades que passaram e que agora decidiram ficar. “Parados”, como eles mesmos se referem a quem não está na estrada trabalhando sob a lona. E que melancolia sente um palhaço em ver o circo partir sem ele?

Assim como os palhaços, busquei entre todas as profissões, aquela que não me permitisse encarar um terreno vazio no dia seguinte.

Haroldo Borges, Diretor de Fotografia

Um comentário:

  1. Linda reflexão, embora eu acredite que em todas as profissões não encaramos um terreno vazio no dia seguinte se assim não quisermos, pois as possbilidades estão em nós..."depende de nós que o circo esteja armado, que o palhaço esteja engraçado, nossa vida depende de nós..."
    Desejo que vc´s encarem os terrenos vazios e cheios, os mutáveis e os constantes, os quietos e os turbulentos... com tranquilidade e bravura e que alcem vôos cada vez mais altos.

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