domingo, 3 de maio de 2009

Profissão: Palhaço

Entre as melhores lembranças da minha infância, estão as matinês no circo. Lembro da majestosa lona do Thiany, dos grandes números do Garcia. Lembro de um pequeno circo que chegou num terreno baldio ao lado da minha casa. Na década de 80, a Avenida Paralela era um lugar distante e tranquilo... Lembro de ter assistido da minha janela àquela lona furada ser erguida. Lembro com carinho de depois estar sentada com meu pai na arquibancada velha. E de como rimos. E de como mais tarde eu custei a dormir sonhando com uma vida como aquela, cheia de partidas e chegadas...

Realizar Profissão: Palhaço me trouxe de volta a emoção daquela tarde na janela de casa. Acompanhar o dia-a-dia de Milson, Cléber e Lucas de tão perto, nos levou a ir desenhando uma narrativa absolutamente humana e imprevisível. Foram duas semanas de convívio intenso entre equipe, circo e personagens. E foi maravilhoso perceber como o modo de relação que construímos, acabou colaborando definitivamente para a captação das nuances mais verdadeiras de cada um dos palhaços. Lucas se apaixonou. Cléber repensou sua saída do circo. Mílson colocou a máscara e enfrentou o picadeiro após um longo período afastado.

E agora, na mesa de montagem, debruçada sobre tantas e tantas histórias, chego à conclusão que a pequena lona do Circo Weverton é na verdade uma lona enorme, gigante, grande ao ponto de abraçar um Brasil inteiro. Esse Brasil rural, árido e carente com o qual nos reencontramos no pequeno povoado de Quicé. Um Brasil sem teatro, sem museus, sem salas de cinema, onde o circo e seus palhaços continuam desempenhando um papel fundamental.

E os rostos seguem pintados e o riso não cessa e o espetáculo não pára.


Paula Gomes, diretora e produtora

5 comentários:

  1. Pau!!!! que bonito escribes, definitivamente!
    Un abrazo muy fuerte para ti, Marcos, Ernesto y Haroldo. Los recuerdo con mucho cariño y espero tenerlos pronto en Colombia!

    besos

    Olga

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  2. "A vida é um só picadeiro de circo
    Quando notamos
    Foram-se as lâminas certeiras dos atiradores ciganos
    Restaram véus de purpurinas.

    Apenas as lembranças rodopiam.
    Ecoam em algum lugar aqui dentro como cambalhotas sapecas"

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  3. O blog está lindo e transmite uma sensibilidade enorme, a sensação que dá é que estamos participando do processo, vendo esses personagens e dialogando com eles.
    Quero que fique pronto para poder ver logo.

    Desejo sucesso!!!!!

    Bjos

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  4. Viajar pelo blog de "Profissao: palhaço, ler os depoimentos da equipe de filmagem, olhar as fotos, a verdade, a qualidade e a poesia neles incutidos, é o prenuncio de tudo de bom que vai ser este documentário. Profissao: palhaço parece ser uma promessa de trazer a tona as duas faces dos vários circos mambembes deste nosso Brasil. Se por um lado essas familias circenses enfrentam a dura realidade da falta de recursos, de infraestrutura, de ter de lidar com a tristeza das lonas rasgadas e luídas pela força do tempo, por outro lado representam a mais pura expressao da força, da coragem de artistas que nao abrem mão da sua cultura, do seus sonhos. E como é gratificante perceber que a força do sonho destes "grandes artistas" de forma multiplicadora contagiou essa equipe de cineatas, resultando neste grande projeto a quem eles denominaram de Profissao: palhaço.
    Não é a toa, que neste momento me vem a mente a frase do poeta: "Sonho que se sonha só, é só sonho; sonho que se sonha junto é realidade.

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  5. Paula, que lindo...
    parabéns querida

    beijos
    Ester

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